Esta primeira parte apresentará a investigação antropológica de Edith Stein e o método usado por ela, assim como mostrará as duas correntes filosóficas que mais influenciaram no seu pensamento: a fenomenologia de Edmund Husserl e o realismo de Tomás de Aquino.
- A metodologia de Edith Stein na obra “A estrutura da pessoa humana”
Na obra “Der aufbau der menschlichen person” pode-se ver com claridade o esforço da filósofa em analisar as diferentes correntes de pensamento a fim de averiguar se estas respondiam as exigências da pergunta: “o que é o ser humano?”.
Neste escrito Edith se volta, em um primeiro momento, para o estudo das ciências naturais acerca do ser humano, depois dirigindo-se para as ciências do espírito e finalizando com o estudo da antropologia teológico-metafísico cristã. Logo após, analisadas as diferentes antropologias, Stein aborda o seu método a ser usado no estudo sobre o ser humano.
Edith deixa claro os prós e os contras a respeito do método filosófica, teológico, história e sistemático quanto ao caminho que iria trilhar:
Por tanto, nosso caminho será o sistemático: teremos que fixar nossa atenção nas coisas mesmas e ir construindo sobre essa base na medida em que possamos. Para isso, naturalmente, temos de proceder de acordo com um método determinado. Na eleição dos problemas me deixarei guiar a maior parte das vezes que santo Tomás, para proteger-me assim de unilateralidade e dispor de certa garantia de que não passarei por alto pontos essências. O método com o qual tratarei de solucionar os problemas é o fenomenológico.
2. Edith Stein e a Fenomenologia
Stein, ainda quando estudava na Universidade de Breslavia, descobre as obras de Edmund Husserl e encontra nelas algo que lhe ajudaria em seu caminhar filosófico, e, em 1913 ela se muda para Göttinga procurando o Saber do famoso mestre.
A filósofa mostrando sua capacidade e brilhantismo, começa a fazer parte do círculo de estudos levado por Husserl em Göttinga e assim fala Conrad Martius desse importante grupo:
A profunda comunhão de pensamento e de pesquisa fez nascer… entre os discípulos de Husserl uma relação que não saberia definir a não ser como nascimento natural de um espírito comum… Não possuíamos uma linguagem técnica e, menos ainda, um sistema comum a todos. O que nos unia era o olhar aberto para o ser atingível através do espírito, em todas as suas formas e mesmo só pensáveis. Nenhuma maravilha, por tanto, que nos sentíssemos ligados por uma amizade recíproca, prescindindo a origem, a raça e confissão a que cada um pertencia. Edith Stein era a fenomenóloga por natureza. Seu espírito apaixonado e objetivo, o olhar livre de preconceitos, a predestinavam.
Edith se aproxima rapidamente pela fenomenologia e assim ela mesma deixa seu pensamento sobre essa corrente filosófica que levará durante todo o seu desenvolvimento como filósofo, mesmo depois de sua conversão ao catolicismo:
Era um erro desde o princípio pensar em um trabalho psicológico. Todos meus estudos de psicologia me haviam levado ao convencimento de que esta ciência estava na sua infância. Faltava-lhe o necessário fundamento de ideais básicas claras e que a mesma ciência era incapaz de elaborar esses pressupostos. Por outro, o que até aquele momento conhecia da fenomenologia me havia entusiasmado, porque consistia fundamental e essencialmente em um trabalho de clarificação e porque desde o próprio ela mesma havia forjado os instrumentos intelectuais necessário.
Assim, começa um árduo trabalho no campo fenomenológico. Quando assistente de Husserl na transcrição da segunda parte das “Ideias” ela assenta bases para sua antropologia fenomenológica: é de grande importância notar que a ainda o ser humano, não sendo um tema de exclusividade, tem um papel importante e central no método de Edmund, devido justamente a sua oposição ao naturalismo e ao psicologismo.
Essa presença do antropocentrismo no pensamento husserliano é confirmado pela mesma Edith Stein em um artigo que ela escreve em comemoração pelos 70 anos de seu mestre. Esse artigo trata-se de um diálogo entre Husserl e Tomás de Aquino, onde o santo diz ao filósofo: “O seu caminho o levou a assumir o sujeito como ponto de partida e ponto intermediário da pesquisa filosófica. ”
Fica claro que, pela grande proximidade entre Stein e o filósofo alemão, será necessário esclarecer alguns termos e conceitos chaves, que aparecem no pensamento e nos escritos da filósofa, sendo esses: intuição eidética e redução eidética, empatia e consciência.
Tratar-se-á estes conceitos chaves de maneira sintética e simples, somente com a intuição de simplificar o entendimento do trabalho no decorrer do caminho. Posto este esclarecimento, dar-se-á início a esclarecer os conceitos.
Os conceitos da redução eidética e da redução eidética são intrinsecamente ligados. São dois termos do pensamento de Husserl sobre o sujeito em relação ao objeto, aos fenômenos que estão ao seu redor. Eles, tratam, resumidamente, sobre a apreensão da essência das coisas, capacidade do sujeito de votar-se “às mesmas coisas”.
O conceito de eidética se origina do grego “eidos”, que é um dos termos com que Platão indicava a “ideia” e Aristóteles a “forma”, só que tanto para Husserl como Stein a conotação dessa palavra grega terá o significado de “essência” e a intuição se apresentará como a forma de conhecimento próprio para o uso na filosofia.
Na visão de Edith Stein, como na de seu mestre, a filosofia não pode ser entendida como ciência dedutiva, nem como ciência indutiva. “Sua forma de proceder não opera segundo leis da matemática, nem sob o registro das ciências naturais”, embora “a indução e a dedução possam ajudar em certo modo”. Então fica claro e evidente que, segundo Husserl e Stein, a filosofia se servirá de outra forma de conhecimento: a intuição, modo solicitado pelos mesmos para o desenvolvimento metodológico, visto que se direciona ao conhecimento das essências, ponto central da fenomenologia.
A intuição, sendo assim, é vista como uma forma de conhecimento não arbitrário, como capacidade humana de chegar à verdade mesma sobre as coisas. O postulado, então, definido pelo filósofo alemão por detrás do conceito de intuição é o da existência e conservação da verdade.
Edith Stein, sobre a existência dessa verdade se deve intuir, diz: “se a natureza humana, se o organismo psíquico, se o espírito do tempo se transformam, então também as opiniões dos homens se transformam, mas a verdade não muda”.
Visto assim, a intuição eidética se apresenta como intuição do “eidos”, essência – segundo Husserl e Stein –, do pelo sujeito. Então se entende que essa simples essência não cabe a qualquer método de conhecimento a sua compreensão. Assim nos diz Stein:
As essências representam uma multiplicidade rica de conteúdo. Há essências deduzidas que se remontam a essências mais simples e que devem fazer-se compreensíveis através destas (por exemplo, ‘agridoce’): mas as últimas essências simples já não podem ser deduzidas umas das outras.
Mas, se o sujeito se envolve em realidades mutáveis, o primeiro problema que se apresenta é o de como garantir que ele adentre a verdade das coisas pela intuição sem que exista interferência na verdade sobre essência do conhecimento.
Dado o problema apresentado, a redução eidética deverá cumprir o papel de esclarecimento da intuição. Sendo assim, o sujeito, neste procedimento, fará uma redução do fenômeno ocorrido à sua essência de maneira a não alterá-la, não importa o fenômeno ocorrido, mas sim o seu significado, que é o ponto chave para Husserl e Stein. Já dizia o fenomenologo alemão que sua filosofia era “uma ciência que pretende estabelecer exclusivamente ‘o conhecimento da essência’ e de modo algum fato”, e essa compreensão será adotada por Edith Stein em seu estudo sobre o ser humano.
Agora, fazendo a redução eidética, ou seja, a redução ao ‘sujeito transcendental’ se mostra a colocação do sujeito que conhece “entre parênteses”, quer dizer, se faz uma epoche.
A epoche tem por objeto a limitação da influência daquilo que é específico da natureza humana e da natureza que a cerca para que seja conhecido o sujeito em si, que procura o sentido dos fenômenos. Esse processo terá seu fim colocando em epoche o objeto conhecido nas suas peculiaridades empíricas.
Dado fim a explicação da intuição e da redução eidética, resta esclarecer e evidenciar o que se entende por empatia e consciência.
O conceito de empatia é um dos conceitos mais fundamentais na filosofia steiniana justamente por ter sido o tema de sua tese doutoral e seu estudo no tempo em que conviveu com o filósofo Hussserl. O tema da empatia entra sua fase fenomenológica, como se pode comprovar na estruturação de suas obras completas, tanto cronologicamente e tanto devido a sua linha de pensamento.
O orientador de sua tese doutoral foi o seu próprio mestre, o pai da fenomenologia Edmund Husserl e o que lhe motivava em tal trabalho era justamente o que era isso o que seu mestre propunha coo resposta adequada à intersubjetividade do ser humano.
Stein compreende por Einfühlung “um tipo sui generis de atos, experiências”, “uma ‘participação interior’ nas vivências alheias”. Esse entendimento, compreensão se dá de modo a conformar a sua realidade espiritual à realidade alheia, num ato de identificação. O processo empático tem seu início com o eu mesmo em relação ao seu corpo e sua alma.
Deve-se essa exigência do processo empático à necessidade de possuir o que é dado no momento de empatia como alheio, momento que para a filósofa é tido como conhecimento. Mas, mesmo sendo um ato de conhecimento no qual exista identificação entre consciências e espírito, essa idetficação não chega a ser total. Fala Edith Stein: “negamos que exista uma completa coincidência com o eu que recorda, que espera o que empatiza, que ambos cheguem a ser um”, sustentando que:
Uma empatia perfeita nesse sentido é impossível. Se se pode produzir certa participação no estado de ânimo do outro, isso não significa que se possa entender perfeitamente sua situação, seus impulsos e suas motivações.
Junto a questão da empatia vem a presentada a compreensão da consciência. Esses dois termos tem uma ligação muito importante entre si.
A consciência é vista e tida como corrente de vivência, ela se identifica com aquilo que dá ao ser humano a condição de experimentar as realidades à sua volta, devido ao fato da intencionalidade mesma, além do que, é na consciência mesma que passa o fenômeno empático segundo Edith Stein.
3. Edith Stein e Tomás de Aquino
A busca pela verdade para Edith Stein não finaliza na fenomenologia, ela ainda continuou com seriedade e retidão o seu caminho e sua pesquisa em busca da verdade. Por isso, é necessário entender sua conversão e onde entra o pensamento tomista em sua filosofia e seu pensamento, para alcançar o entendimento de como ela irá dar continuidade a construção do seu pensamento, nos anos seguintes, tanto quanto na abordagem da fenomenologia, como, e principalmente, da antropologia filosófica.
O encontro com a filosofia tomista é antecedido pelo seu processo de conversão ao cristianismo e ao catolicismo. Esse processo de conversão teve início nos anos em que Stein se encontrava em Göttinga, graças as aulas que ela assistia impartidas por Max Scheler sobre a noção de simpatia, pois era um assunto próximo ao tema da sua tese doutoral.
Stein era de tal maneira envolvida nessas aulas e fascinada pela presença de Scheler que ela narra a sua retomada da fé diante das ideias deste filosofo da Seguinte forma:
Para mim, como para muitos outros, sua influência ultrapassa o domínio da filosofia. Não sei mais em que ano Scheler converteu-se a Igreja Católica, mas esse tempo devia estar próximo, pois ele estava impregnado de ideias cristãs, às quais emprestava a força da sua persuasão e o brilho do seu espírito. Subitamente revelou-se aos meus olhos um universo, até então totalmente desconhecido. Isso não conduziu imediatamente à fé, mas abriu-me um campo de novos fenômenos, que não era mais possível ignorar. Não foi em vão que aprendemos a rejeitar os espantalhos e a receber todas as coisas sem preconceito. Assim os muros do racionalismo dentro dos quais eu fora criada caíram sem que soubesse e de repente me vi diante do mundo da fé no qual viviam pessoas que eu respeitava e com as quais tinha contato diário. Esse fato merecia reflexão. Não era inda um exame sistemático do problema religioso, pois absorviam-me outras ideias. Aceitava, porém, sem resistência, as ideias dos que me rodeavam e recebia sua influência quase sem perceber.
Com o início da Primeira Guerra Mundial Edith Stein se vê obrigada a abandonar os estudos para cuidar dos feridos em um hospital austriaco. Ao voltar, ela defendeu sua tese e depois partiu para a cidade de Friburgo à convite de seu mestre Husserl. Já nessa cidade, ela conhece Heidegger e lê sua obra “Ser e Tempo” ficando bastante intrigada de como o autor trata o tema do ser.
Ela tenta uma cátedra em Göttinga, tendo uma carta de recomendação de Husserl, mas acaba não sendo aceita por dois motivos; em primeiro lugar, porque na Universidade não lecionavam mulheres; em segundo, porque ela não comungava das ideias sobre psicologia assumidas por tal departamento na universidade. No ano de 1917 – como nos conta Mariana bar Kusano em sua obra – morre um grande amigo e professor de Stein, Adolph Reinach, e a sua esposa, Ana Reinach, pede ajuda de Edith para organizar uma edição póstuma das obras do seu marido. Edith pensava que encontraria a sua amiga arrasada pela dor, mas ao contrário, encontra uma mulher firme na fé e serena em sua alma. Assim revela ela esse encontro já sendo carmelita:
Este fora o meu primeiro encontro com a cruz, com essa força divina que emana aos que a carregam. Pela primeira vez, a Igreja nascida da paixão de Cristo e vitoriosa sobre a morte, me apareceu visivelmente. No mesmo instante a minha incredulidade cedeu, o judaísmo empalideceu aos meus olhos e aluz de Cristo refulgiu em meu coração.
Nos anos que ela passará em Göttinga estabelecerá uma grande amizade com Hedwiger Conrad-Martius e seu marido, e assim por muitas vezes passará férias com o casal. No verão de 1921, Edith Stein lê “ o livro da vida”, de Teresa de Avilá e ao terminar afirmará ter encontrado a verdade. Dado tal acontecimento, no ano de 1922, recebe o batismo na Igreja Católica.
Com a sua conversão, Stein, se aproxima da filosofia Católica, focando leituras, principalmente na obra de Santo Tomás de Aquino. Em 1923 ela nos oferece um relato de sua vida interior quando em contato com os textos do Santo diz:
Desde antes da minha conversão já era meu desejo entrar para a vida religiosa, isto é, esquecer os acontecimentos da terra, ocupar-se somente com as coisas de Deus. Pouco a pouco porém, compreendi que outras coisa nos era pedido no mundo, e que mesmo entregue a uma vida contemplativa não se deve cortar toda a ligação com o exterior. Lendo Santo Tomás, pareceu-me possível pôr o conhecimento a serviço de Deus e foi então, e somente então, que consegui retornar seriamente aos trabalhos. Pareceu-me com efeito, que quanto mais uma pessoa é atraída por Deus, mais obrigada deve sentir-se a sari de si mesma para levar ao mundo o amor divino.
Relata Elisabeth Miribel que depois do batismo, a filósofa sem deixar sua participação com o Círculo de Göttinga, começa a auxiliar um pequeno grupo de pensadores católicos que se formou em torno de Dietrich Von Hildebrand, na época também ele sendo um recém convertido, de Dom Feuling, monge de beuron, e do padre Przywara, jesuíta.
Padre Eric Przyawara, tendo conhecimento dos escritos da jovem filósofa, mostra vivo interesse pela conversão, confiando a ela, segundo narração de Hildebrand, algumas traduções: sendo essa, algumas obras do Cardial Newman e também o livro “Questiones Disputatae de Veritate” de Tomás de Aquino.
Edith Stein encontra, assim, na antropologia medieval a resposta necessária para a sua pesquisa sobre o ser humano:
Só será possível evitar o niilismo pedagógico que se segue do niilismo metafísico se se consegue superar este último com uma metafísica positiva, que dê uma resposta adequada ao nada e aos niilismos da existência humana. Quisera por isso terminar esboçando a metafísica cristã […]
Para ainda deixar mais evidente o trabalho de Edith Styein na filosofia cristã, em modo especial em Santo Tomás de Aquino, vai-se esclarecer e explicar alguns termos usados pelo santo e adotados pela filósofa na sua pesquisa sobre Der auf bau der Menschlichen – A estrutura da pessoa humana _ onde esta faz uma ampliação do campo de investigação: “haveremos de começar esta investigação utilizando na medida do possível meios filosóficos, é dizer, valendo-se do conhecimento natural. Mas tampouco nessa fronteira podemos nos deter”.
Os termos a serem explicados são: Estrutura metafísica daquilo que é, o ente; Espírito, Alma e corpo; e Reditio Completa. Vale ser lembrado que os termos serão explicados de maneira simples e breve, para que possa dar-se a entender uma continuidade coerente do trabalho.
A metafísica escolástica de Tomás de Aquino tem em sua base o ensinamento Aristotélico, mas sua grande contribuição a filosofia no campo metafísico se compreende justamente a partir dos conceitos de “Matéria e Forma”, “Ato e Potência”, “Substância e Acidente”. Esses conceitos serão de fundamental importância para a ontologia do ser humano em Edith Stein.
Para chegar a compreensão destes termos é necessário, primeiro e antes de tudo, ter clareza do que é o ser. Ser é o ato primeiro, perfeição daquilo que é, o ente. Mas se deve deixar claro, aquele que é não é o ser, mas o possui, de modo gradativo em relação ao ser mesmo, graduação essa que é clarificada na sua própria estrutura.
A estrutura do tente, finalmente, começa sua constituição pela substância, que é aquilo que é em si mesma, sendo esta, por sua vez, acompanhada pelos acidentes, os quais são na substância, porque não possuem ser em si. É importante notar, os acidentes só podem ser vistos separadamente apenas didaticamente. Eles, os acidentes, não destroem a unidade doe ente, fator que ocorre também em relação as demais duplas citadas.
Na explicação metafísica de Tomás pode-se observar que matéria e forma se apresentam como desdobramento das perfeições do ente e da sua capacidade de receber perfeições – ato e potência. Isto porque o substrato se trata com o qual é feito do ente – Matéria-prima, que é pura potência – e do que o substrato recebe para ser o que é- a forma substancial que é o ato primeiro que faz com que aquele que é seja o que é.
Esclarece-se que o ato primeiro faz menção ao ser que dá de si àquele que possui ser através do ato de ser, ligado a essência. O ato de ser é, portanto, a primeira perfeição necessária para que todo aquele que é, que deve ser dado a uma essência que limita e define em qual graduação o ente será.
Apresentas a questão sobre o ente em Aquino, agora se propõem abordar o tema “Espírito, alma e corpo” segundo o santo doutor, é conveniente lembrar que será feito de modo breve e simples.
Tais noções de espírito, alma e corpo, já são adotadas na fenomenologia husserliana e são consideradas marcas básicas do ser humano. Segundo Edith Stein, para Aquino o elemento unificado que reúne o todo, e a estrutura em sua multiplicidade de membros, é a alma. […] Este modo de ver as coisas é o único possível se, como Santo Tomás, se parte da unicidade substancial.
Já o corpo, segundo o aquinate, não deixa a alma completamente desvencilhada, ainda que não interfira nas suas ações espirituais dA alma humana está também vinculada ao corpo […] mas suas capacidades espirituais não estão atadas ao corpo imediata e indissociavelmente (só o estão indiretamente, através das capacidades sensíveis, sobre cujas funções elas levantam seu edifício próprio).
Por sua vez, o espírito é o que caracteriza a natureza do homem, porque o capacita para conhecer a realidade e a si mesmo e permite ao ser humano a consciência e a autoconsciência, pois segundo Aquino, “non enim proprie loquendo sensu aut intellectus cognoscunt sed homo per utrumquae”. O conhecimento da relação com o corpo é fruto da reflexão do homem sobre si, pois a partir dele o homem vê-se como espírito ligado ao corpo – sentidos- – que por sua vez, necessita do espírito para possibilitar o conhecimento.
O último conceito que se evidência é o de Reditio Completa – reflexão completa – essa é uma síntese do movimento do ser humano concluindo o conhecimento. Esse termo terá um grande valor e um papel importante para Stein na valorização da gnosiologia proposta por Husserl após equipará-la com a doutrina tomista.
A Reditio, ainda está ligada a consciência e essência do ser humano. Para essa vinculação com ambas as realidades, deve-se levar em conta o processo de conhecimento humano. Ele, como o sujeito que conhece uma realidade exterior pelos sentidos, faz com que o “fantasma” do real seja criado na sua mente, para que através dele possa ser subtraído aquilo pelo qual possa realmente se conhecer, a “espécie inteligível”.
Uma vez conhecida a realidade externa através da sua espécie correspondente, o sujeito realiza uma prova real de seu conhecimento para verificar a veracidade do mesmo, para o qual, a “reditio completa” tem um papel fundamental. Ela é o momento em que o homem faz uma reflexão completa, conhecendo o que conhecer e comparando o material cognoscitivo com a realidade em si. Além disso conhece que conhece, conhece que é um ser espiritual e que tem essa capacidade devido a sua natureza humana, que é espiritual.
Sendo assim, o homem tem consciência de sua essência. Conhece-a de maneira intima e faz conhecedor, além da realidade exterior, da realidade interior, que é o seu próprio ser.
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TODOS OS DIREITOS DO TEXTO ACIMA ESTÃO RESERVADOS AO seminarista WENDERSON MACHADO PINTO, monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Filosofia pelo Seminário Maria Mater Ecclesiae do Brasil, sob a orientação do Profº. Dr. .Joel Gracioso.
IMAGEM: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-917840675-antropologia-de-edith-stein-a-_JM
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PARA COMPREENSÃO DO TEXTO O SEMINARISTA SUGERE A LEITURA APROFUNDADA DAS SEGUINTES BIBLIOGRAFIAS:
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