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A Igreja Católica e o Paganismo

Introdução

Uma das caricaturas que se construiu da Igreja Católica é a da igreja pagã. Segundo esta caricatura, a Igreja Católica seria a continuação da Roma pagã, resultado de um sincretismo entre paganismo e cristianismo. Toda caricatura distorce a verdadeira imagem daquilo a que se refere, e não é diferente neste caso. Este artigo é o primeiro de uma série onde procuraremos pontuar tal questão e dar informação àqueles que só possuem como fundamento fantasias.

Toda Verdade vem de Deus

Qualquer pessoa de fé há de concordar que toda Verdade vem de Deus. Um outro fato é em todos os povos e culturas há elementos que são reflexos da Luz da Verdade. Temos como exemplo a instituição da família, os conceitos éticos e morais, a concepção de justiça, e muitos outros.

O mesmo acontece no campo religioso no qual a grande maioria das religiões prega o bem ao próximo, o julgamento dos homens, a bem-aventurança dos justos, a condenação dos malfeitores, o governo do universo por um Deus que ama os homens, etc.

Desta forma, toda Verdade que há no mundo veio de Deus, pois Ele é a única fonte da Verdade. Qualquer feixe de luz que se infiltre na escuridão vem do Senhor. Por isso disse o salmista: “porque em vós está a fonte da vida, e é na vossa luz que vemos a luz” (Sl 35,10).

Elementos comuns entre as doutrinas pagãs e a Mensagem Cristã é natural

O homem em todos os tempos e culturas manifestou a sua fé na existência de uma divindade. Interessante notar que sempre procuraram prestar culto àquilo que criam ser Deus, instituindo um conjunto de normas que visavam estabelecer uma relação entre o homem e Deus. Um exemplo são os rituais de sacrifício ou adoração, a hora de reflexão sobre as ordenanças divinas, etc.

Todas as leis civis das nações antigas eram leis religiosas. Isto mostra que foi através da busca de Deus que o homem procurou normatizar a ética e moral, que visavam o bem comum. Ora, sabemos que as leis de Deus são para a felicidade do homem (cf. Mc 2,27).

Toda verdade que os povos pagãos conseguiram perceber veio de Deus, que é fonte de toda Verdade. No entanto, esses elementos da Verdade não foram transmitidos através de uma Revelação de Deus, mas foram captados através da percepção do mundo criado e da lei natural que Deus gravou no coração de cada um. Isto é confirmado pelo Apóstolo São Paulo:

Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles [os pagãos] o lêem em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar? (Rm 1,19-20).

Ora, se há elementos da Verdade na doutrina dos pagãos e o anúncio da Igreja é a Verdade, é lógico que haverá algo em comum entre uma coisa e outra. No entanto, esta convergência não significa comunhão ou sincretismo religioso, mas que entre elas há elementos comuns, tão somente isso.

Imagem relacionada

Os acusadores da Igreja Católica possuem telhado de vidro

Os protestantes que postulam pela tese de que a Igreja Católica tomou empréstimo de doutrinas pagãs, não só confundem convergência com sincretismo religioso, como também mostram ser deliberados em suas análises.

Ao invés de refutar a lista de acusações que eles elencam (que não é pequena) mostrarei que a natureza dos argumentos que eles usam contra a Igreja, desqualifica não só o Catolicismo, mas o Cristianismo como um todo. Veja como pensam alguns estudiosos sobre o assunto:

O cristianismo não destruiu o paganismo; ele o adotou…a idéia da divina trindade veio do Egito, assim como o Juízo Final e a recompensa dos bons e a punição dos maus” (DURANT, 1944).

A ressurreição veio da estória síria de Adônis; a estória de um deus morrendo e salvando a humanidade vem do culto a Dionísio, da Trácia; da Pérsia veio o milenarismo, as ‘eras do mundo’, a luta final do bem e do mal, o dualismo de Satã e Deus, das Trevas e da Luz; no quarto evangelho Cristo é ‘a luz que brilha nas Trevas e as trevas não puderam contra ele’. O ritual mitraísta lembrava em muito a Eucaristia da Missa…” (Ibid.).

Se o paganismo foi conquistado pelo cristianismo, o cristianismo foi corrompido pelo paganismo. O deísmo dos primeiros cristãos  foi mudado, pela Igreja de Roma, no incompreensível dogma da Trindade. Muitos dos ensinos pagãos, inventados pelos egípcios e idealizados por Platão, foram considerados dignos de fé. A doutrina da encarnação e da transubstanciação foram adotadas como certas, apesar de serem tão absurdas como o antigo rito pagão de ver as entranhas dos animais para prever o destino dos impérios“.(GIBBON, 1891).

O Épico de Gilgamesh é uma narrativa volumosa de mitologia heróica que incorpora muitos dos mitos religiosos da Mesopotâmia, e é a obra literária completa mais antiga que sobreviveu. […] Muitas das histórias desse épico foram eventualmente incorporadas no livro de Gênesis. Algumas histórias emprestadas do livro de Gilgamesh são a criação do homem num jardim paradisíaco, a introdução do mal num mundo inocente, e a história do grande dilúvio causado pela perversidade do homem? (PAGELS, 2003).

Os fragmentos acima dizem respeito às doutrinas como a Santíssima Trindade, a Encarnação do Verbo, a Ressurreição do Senhor, a criação do homem, nas quais também crêem os cristãos protestantes.

Como se vê as acusações ?à moda? protestante identificam todo o Cristianismo como uma religião herdeira do paganismo. Tal é a conclusão de Duran: “o cristianismo foi a última grande criação do antigo mundo pagão” (DURANT, 1944).

Há também quem diga que o Cristianismo tomou empréstimo de doutrinas do Hinduísmo. Brahma, Vishnu e Shiva  compõe a Trindade no Hinduísmo, chamada de Trimurti. Na Trindade do hinduismo, Brahma é o Criador, assim como o “Pai”. Vishnu é o protetor que encarna na Terra, assim como o “Filho”.  Shiva, como o Espírito Santo, é quem destrói as coisas ruins para renovar o Universo. Como na Trindade cristã, são três deuses formando um só.

Outros afirmam que o Cristianismo copiou o Mitraísmo, religião greco-persa. Segundo a mitologia Mitra era um deus que nasceu de uma virgem, morreu e ressuscitou no primeiro dia da semana, redimindo toda a humanidade. Mitra sobe aos céus no carro solar e volta à Terra no julgamento final, para conduzir os bem-aventurados, recompensados por seus méritos, para o reino celestial. Aos de maus princípios, estava reservado o sofrimento eterno.

Dizem que Baco, o deus do vinho, foi também um deus salvador. Teria feito muitos milagres, inclusive a transformação da água em vinho e a multiplicação dos peixes. Em criança, também quiseram matá-lo. Todos os deuses redentores passaram pelo inferno, durante os três dias entre a morte e a ressurreição. Isto é o que teria acontecido com Baco, Osiris, Krishna, Mitra e Adonis. Nestes três dias, os crentes visitavam os seus defuntos, segundo Dupuis, em “L’ Origine des tous les cultes“.

Conclusão

Como se pode ver, as semelhanças entre as mitologias pagãs e o Cristianismo como um todo é maior do que pensam alguns.

No artigo da próxima semana trarei à luz alguns textos dos antigos cristãos sobre este assunto. Eles mostram que a Revelação de Deus é anterior às mitologias e que foram estas que tomaram empréstimo da Doutrina de Deus.

Interessante é a observação de C. S. Lewis. Além de ser um dos maiores defensores da Fé Cristã dos últimos tempos, foi um renomado especialista em mitologias e estórias antigas. Segundo ele:

Resultado de imagem para A Igreja Católica e o PaganismoA história de Cristo é simplesmente um mito verdadeiro. Um mito que trabalha em nós da mesma forma que os outros, mas com esta diferença tremenda: que ele realmente aconteceu e a pessoa deve estar contente em aceitá-lo na mesma forma, lembrando que é mito de Deus onde os outros são mitos dos homens; isto é, as histórias pagãs são Deus expressando a si mesmo por meio das mentes dos poetas, usando tais imagens como ele as encontrou lá, enquanto o cristianismo é Deus expressando a si mesmo por meio daquilo que chamamos de ‘coisas reais’ […] a saber, a encarnação real, a crucificação e a ressurreição.” (Hooper,1999).

Esta observação de C.S.Lewis parece estar em plena conformidade com o ensinamento de São Paulo:

Os pagãos, que não têm a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei; eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente” (Rm 2,14-15) (grifos meus).

Referências

GIBBON, Edward. História do Cristianismo, 1891, p. xvi.

PAGELS, Elaine . The Gnostic Gospels. Tradução de Scott Bidstrup. Disponível em http://www.str.com.br/Atheos/biblia2.htm. Acessado em 14/09/2006.

HOOPER, Walter. The Other Oxford Movement: Tolkien and the Inklings. Incluído como um capítulo em Tolkien: A Celebration, editada por Joseph Pearce (Londres: Fount, 1999), pg 184-185.

DURANT, Will. História da Civilização, César e Cristo, parte III, 1944, p. 595.

 

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TEXTO ACIMA, ESTÁ COLOCADO NA INTEGRA, COMO CONSTA NO SIT www.veritatis.com.br