Sabemos que a Igreja de Deus, constituída por sua admirável providência para ser na plenitude dos tempos uma família imensa que englobe todo o género humano, se distingue por disposição divina, entre outras características singulares, pela sua unidade ecuménica.
Cristo Senhor não Se limitou a encomendar apenas aos Apóstolos a missão que Ele próprio recebera do Pai, ao dizer: Foi‑Me dado todo o poder no céu e na terra; ide e fazei discípulos de todos os povos. Quis também que o colégio apostólico fosse especialmente uno, e ligado por um vínculo estreitíssimo e duplo: um interior, a saber, a mesma fé e caridade, que foi derramada pelo Espírito Santo nos nossos corações; e outro exterior, pelo governo de um sobre os demais, por ter conferido o primado apostólico a Pedro, como princípio permanente e fundamento visível da unidade. Para que esta unidade e harmonia permanecessem para sempre, Deus providentíssimo consagrou‑a ao mesmo tempo com o selo da santidade e do martírio.
Esta grande honra coube ao arcebispo de Polock, São Josafat, de rito eslavo oriental, que com razão reconhecemos como glória e sustentáculo esplendoroso dos eslavos orientais. Nenhum outro ilustrou mais o nome deles e contribuiu mais para a sua salvação do que este seu pastor e apóstolo, especialmente ao derramar o seu sangue pela unidade da santa Igreja. Além disso, sentindo‑se movido por uma inspiração celeste, compreendeu que podia contribuir muito para restabelecer a santa unidade, se mantivesse dentro da unidade universal o rito oriental eslavo e a ordem monástica de São Basílio.
Preocupado, entretanto, principalmente com a união dos seus compatriotas à Cátedra de Pedro, procurava por toda a parte quantos argumentos pudessem promovê‑la ou confirmá‑la, sobretudo consultando os livros litúrgicos que os Orientais e os próprios dissidentes costumavam usar por prescrição dos Santos Padres. Utilizando tão diligente preparação, começou a trabalhar pela unidade ao mesmo tempo com tal firmeza e brandura e também com tanto fruto que os próprios adversários lhe chamaram «conquistador de almas».
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Da encíclica Ecclesiam Dei do papa Pio XI
(AAS 15 [1923] 573-582)