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O CONHECIMENTO E A DEMONSTRABILIDADE DA EXISTÊNCIA DE DEUS, PESSOAL E TRANSCENDENTAL

 A necessidade de demonstrar a existência de Deus se faz por quatro motivos: o primeiro é a necessidade de dar rigor racional àquilo que a consciência religiosa já admite, mais ou menos intuitivamente: a realidade de Deus; segundo motivo, dado que a existência de Deus não é uma coisa óbvia, embora todos os povos tenham sido religiosos; o terceiro motivo é que a demonstração da existência de Deus se faz ainda mais necessária por causa daqueles que negam a existência de Deus, os “inimigos da fé”; e o quarto motivo é a própria fé, enquanto escuta e obediência ao Deus que fala, necessita atestar racionalmente a existência deste Deus

 As provas da existência de Deus pressupõem, além de uma determinada concepção de homem têm três os pressupostos das: gnosiológico, ontológico e psicológico. O pressuposto gnosiológico é o “realismo” – o sujeito é capaz de conhecer o objeto real. O pressuposto ontológico é a existência do mundo exterior e a validade do princípio da causalidade. O pressuposto psicológico é a pureza do olhar e capacidade de admiração.

Vejamos algumas provas formalizadas por alguns filósofos:

 Platão: foi o primeiro a formalizar as provas da existência de Deus, a elaborar uma formulação rigorosa de suas argumentações, que se tornarão depois as clássicas “vias” da existência de Deus. Platão busca provar a existência de Deus a partir do movimento e dos fenômenos com os seguintes argumentos: 1) da causalidade: exige uma primeira causa que seja fonte de todas as outras causas; 2) da ordem: exige uma Mente organizadora suprema; 3) dos graus de perfeição: exige um ser perfeitíssimo.

 Aristóteles: Toma de Platão duas provas (dos graus de perfeição e do movimento) e lhes dá uma forma lógica mais rigorosa, recorrendo ao argumento silogístico. Prova dos graus de perfeição: Onde houver graus de bondade, haverá também algo de ótimo. Ora, entre as coisas existentes constatamos que algumas são melhores do que outras. Portanto (logo), existe uma coisa que é necessariamente divina.

  Agostinho: além de utilizar as clássicas vias platônicas da ordem (O livre-arbítrio) e dos graus de perfeição (A trindade), Santo Agostinho utiliza uma nova via: “a via da verdade”. Existem verdades imutáveis, eternas em nossa mente; Tais verdades não podem ser fruto de uma inteligência mutável e sujeita ao tempo, como a mente humana. Sua origem só pode ser transcendente, uma Verdade eterna subsistente que é o próprio Deus: “Se há algo mais elevado que a verdade, então essa cosia é Deus; mas, se ao invés, não há nada de mais nobre, então esta verdade mesma é que é Deus. Em qualquer caso, não podes negar que Deus existe”. (O livre-arbítrio II, 3, 15)

 Santo Anselmo D’Aosta: com este autor temos uma nova formulação da prova, não partindo dos fenômenos (movimento, ordem, graus de perfeição, contingência, etc.) e sim da idéia mesma de Deus (primeira “prova ontológica”). Ele faz ver que a essa idéia corresponde necessariamente uma realidade efetiva, um ser subsistente (Proslogium2). Deus é, por definição, aquele em relação ao qual não se pode pensar nada que seja maior do que ele (quo maior cogitarinequit). Tal ser, não pode existir apenas no intelecto. Se existisse apenas no intelecto, poderíamos pensar em algo que existisse também na realidade, e este algo seria maior. E isso é impossível [contraditório]. Portanto, aquele em relação ao qual não existe nada que seja maior, existe tanto no intelecto quanto na realidade.

 Tomás de Aquino: aperfeiçoou e tornou universalmente conhecidas as Cinco Vias (baseadas, respectivamente, no fluir (movimento), na causalidade segunda, na contingência, nos graus de perfeição e no finalismo). Sua contribuição original está na criação de uma filosofia do ser, que abriu uma nova via para ascender a Deus.

 As provas da existência de Deus podem ser classificadas em: ontológica: baseiam-se no ser de Deus, como é a prova de Santo Anselmo que parte da essência de Deus e a de Santo Tomás que parte do ser de Deus; as cosmológicas: baseia-se nos fenômenos da contingência do mundo, por exemplo, as Cinco Vias de Santo Tomás; e antropológicas são as que partem das exigências de auto transcendência que encontramos no homem, por exemplo, a via da verdade de Santo Agostinho.

 Quando falamos da existência de Deus, outro problema que surge é o da linguagem. Como falar de Deus? Para Santo Agostinho, apesar da incapacidade das palavras de exprimir a realidade divina, o homem encontra grande satisfação ao alcançar um pouco da realidade de Deus, mesmo sabendo que compreendê-lo é absolutamente impossível. Santo Tomás indica três possibilidades para esclarecer o sentido das palavras usadas para falar de Deus: univocidade, equivocidade e analogia. Entre esses três usos somente o ultimo é correto. A univocidade é errada porque leva ao panteísmo e a equivocidade leva ao ceticismo. Nossa linguagem ao falar de Deus ampara-se, se apóia na analogia. Por exemplo, quando falamos que Deus é bom, estamos fazendo uma analogia com a bondade humana, e depois elevamos esta bondade ao grau máximo, Deus é mais bom, boníssimo.

 Este é o traço característico de Deus, que o distingue de maneira clara e exclusiva: não indica apenas que Deus existe e possui o ser, mas que ele é o ser mesmo na sua totalidade, a plenitude do ser, o ser subsistente, o ser em pessoa. Embora sabendo que Deus transcende infinitamente todos os entes, o homem sempre procurou dar-lhe uma imagem, uma figura, um rosto. A aspiração humana de dar a Deus um rosto é legítima, pois sabemos que Deus é pessoa.

  Santo Agostinho, em sua obra A Trindade, apresenta uma lista que resume os atributos que a razão filosófica (rationaturalis) pode descobrir na substância divina. Ele apresenta doze atributos, divididos em três grupos: 1) A transcendência de Deus: eternidade, imortalidade, incorruptibilidade, imutabilidade; 2) Deus como princípio primeiro, relacionado com a verdade: vida, sabedoria, poder e beleza; 3) Deus como princípio primeiro, relacionado com a felicidade: justiça, bondade, felicidade e espírito.

  No conceito de pessoa reúnem-se os dois máximos atributos de Deus: esseidade (Deus é a plenitude do ser) e espírito (aberto, disponível, comunicável, tudo penetra). Deus como pessoa diz mais do que esses dois atributos, pois acrescenta a propriedade da subsistência. Pessoa vem do latim persona que significa fazer ecoar, Deus faz ecoar por toda parte a voz do ser. Ele é pessoa não apenas sob o ponto de vista ontológico, mas também por motivações religiosas: Deus é pai, juiz, soberano, amigo, etc. Ele tudo vê, tudo ouve, tudo pode, tudo quer e tudo concede. O conceito de pessoa adveio do pensamento cristão, que a ele chegou a partir da meditação sobre o mistério de Deus, uno e trino, e do estudo da história da salvação como história de pessoas concretas, particulares, onde cada indivíduo representa todo o gênero humano, pois cada homem é portador do título de filho de Deus.

Santos Manoel Messias Dias, O CONHECIMENTO E A DEMONSTRABILIDADE DA EXISTÊNCIA DE DEUS, PESSOAL E TRANSCENDENTAL,  Seminário de Síntese Data: 03/10/2013, SEMINÁRIO MARIA MATER ECCLESSIAE DO BRASIL.