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O Natal do Senhor é o natal da paz

O estado de infância, que o Filho de Deus assumiu sem a considerar indigna da sua majestade, foi-se desenvolvendo com a idade até chegar ao estado de homem perfeito e, uma vez consumado o triunfo da sua paixão e ressurreição, todas as acções que eram próprias do seu estado de aniquilamento,que o Senhor aceitou por amor de nós, tiveram o seu fim e pertencem ao passado. E contudo, a festa de hoje renova para nós o sagrado início da vida de Jesus, nascido da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento do nosso Salvador, celebramos realmente também o nosso nascimento.
Efectivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão; o Natal da cabeça é também o natal do corpo.
Embora cada um tenha sido chamado num momento determinado,para formar parte do povo do Senhor, e todos os filhos da Igreja sejam diversos na sucessão dos tempos, contudo, a totalidade dos fiéis, nascida na fonte do baptismo, assim como foram crucificados com Cristo na sua paixão, ressuscitados na sua ressurreição, colocados à direita do Pai na sua ascensão, assim também nasceram com Ele neste Natal.
Todo o homem que, em qualquer parte do mundo, acredita e é regenerado em Cristo, liberta-se do vínculo da culpa original e, ao renascer, transforma-se num homem novo, já não pertence
à descendência de seu pai segundo a carne, mas à nova geração do Salvador, o qual Se fez Filho do homem para que nós pudéssemos ser filhos de Deus.
De facto, se Ele não tivesse descido até nós na humildade da natureza humana, ninguém poderia chegar até Ele por seus próprios méritos.
Por isso, a mesma grandeza do dom recebido exige de nós uma veneração digna da sua magnificência. Assim nos ensina o Apóstolo: Não recebemos o espírito deste mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que nos foram dados por Deus; o melhor culto que podemos prestar a Deus é oferecer-Lhe o dom que Ele mesmo nos concedeu.
Ora, entre os dons da divina generosidade, que poderemos nós encontrar tão digno para honrar a presente festa, como a paz, aquela paz que os Anjos anunciaram no nascimento do Senhor?
É a paz que gera os filhos de Deus, alimenta o amor e cria a unidade. Ela é o repouso dos santos e a mansão da eternidade. E o fruto próprio desta paz é unir a Deus os que separa do mundo.
Portanto, aqueles que não nasceram do sangue, nem da carne nem da vontade do homem, mas de Deus, ofereçam ao Pai o coração de filhos unidos pelo vínculo da paz, e todos os membros da família adoptiva de Deus se encontrem n’Aquele que é o Primogénito da nova criatura, que não veio para fazer a sua vontade, mas a vontade d’Aquele que O enviou. Os que foram adoptados pela graça do Pai, para serem seus herdeiros, não são os que vivem separados pela discórdia e incompatibilidade, mas os que se encontram unidos pelos mesmos sentimentos e pelo mesmo amor. Os que foram modelados pela mesma imagem, devem ter um só coração e uma só alma.
O nascimento do Senhor é o nascimento da paz. Assim o proclama o Apóstolo: Ele é a nossa paz; Ele fez de dois povos um só: quer sejamos judeus quer gentios, é por Ele que temos acesso ao Pai num só Espírito.

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TUDO CONFORME A LEITURA: Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Sermo 6 in Nativitate Domini, 2-3, 5: PL 54, 213-216) (Sec. V)

IMAGEM: https://diocesesa.org.br/wp-content/uploads/2017/08/vocacao_leiga.jpg