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O QUE É O MAL? E QUAL É A SUA ORIGEM? Qual é o processo da vontade?

“… Deus não pode ser a causa do mal, ou da privação ou da mutilação que deforma este ato: destes sou eu a causa; o mal como tal, é a única coisa que posso fazer sem Deus, subtraindo-me, então, como que uma iniciativa emanada do meu nada, à influência da causalidade divina. Na linha do mal a criatura é a causa primeira. ‘Sine me nihil potestes facere’: estas palavras são verdadeiras em dois sentidos: sem Deus nada podemos fazer; nós podemos sem ele ‘fazer o nada’. A iniciativa no caso do bem vem de Deus e então a iniciativa da liberdade criada procede ela mesma, da iniciativa divina. Mas, por causa do poder da rejeição, que faz parte da natureza de toda liberdade criada a iniciativa vem sempre da criatura no caso do mal, já que Deus pode, mas não quer, impedir que a criatura oponha a sua recusa, quando quer: as mãos de Deus estão atadas pela generosidade de seu amor, tal como as do Filho Homem sobre a cruz!”

{ Sto. Agostinho, De Civitate Dei, XIV, 28.}

 

A problemática consiste em saber se o homem pode transcender a condição biológica que vai ligada ao prazer e ao sofrimento. Não poderia haver existência biológica sem dor. Mas o sofrimento é conseqüência do pecado original na medida em que no designo do amor divino o homem é chamado a uma condição que transcende o biológico, o prazer e a dor ao mesmo tempo. Desta maneira o problema que rechaçará a Deus, a causa da existência da dor não tem validez. Porque o ateísmo moderno lhe rechaçaria também por razão do prazer. O que ele nega é, ante todo, o fato de que a liberdade não seja ela mesmo origem, que tinha que receber ela de fora.

Qual é a causa do mal? O mal é privação, é não-ser[1]; pergunta-se da causa do que é; logo o que não é não precisa ter causa. A causa eficiente tende a produzir um efeito positivo, real; o mal é formalmente privação. Mas em nosso segundo tópico vimos males, sofrimento, então o mal não passa de um ente de razão, de algo com existência não real? O mal supõe uma causa material que é o sujeito com privações como por ex. privação de um rim após cirurgia, e privação de paciência. Não tem uma causa formal que o determine especifique, pois é ausência de perfeição, de um bem exigido pelo desenvolvimento normal da natureza de um ser. Quanto a causa eficiente direta e imediata, o mal, não pode Ter, isto é não é efeito próprio e natural de nenhum “motor”. Todavia, indireta e acidentalmente há uma causa. Uma causa que produz o seu efeito natural , próprio, que é bom em si, mas (no caso do mal), este efeito no sujeito em que se produz implica uma privação que para ele é um mal. Ou por ima imperfeição da causa eficiente ou por um obstaculo existente no sujeito à sua ação ou por uma incompatibilidade entre o novo efeito produzido e uma perfeição preexistente do sujeito e que por isso deve ser eliminada, uma atividade produz muitas vezes ao lado do seus efeito próprio, natural e imediato que é bom, uma privação, isto é, um mal que o não é senão relativamente às exigências especiais do sujeito que recebe a ação. A causa é deficiente, uma contradição de princípio ativo que agindo tivesse como termo de sua ação o não-ser. A existência do mal não exige um princípio supremo e absoluto que explique na causalidade da ordem eficiente; O objeto da nossa inteligência é o ser, o mal como o nada é uma falsa idéia, que não pode ser concebida senão em função do ser. A privação resulta de um efeito acidental e indireto de uma atividade boa. A causa boa pode querer esta privação, não em si, mas em vista de um bem superior a que se acha unida. Assim Deus que é bom quer o “mal físico” no universo, não como mal, porém como condição de um bem maior[2].

 

O problema da providencia e da vontade em si: de um passo para outro, não nos achamos mais em face de indivíduos cuja razão de ser é a espécie, mas frente a pessoas de dignidade, de finalidade própria e inalienável. Na espécie humana onde cada subsistente (inteligente, livre-arbítrio, espírito imortal) tende atingir um fim, no conhecimento e no amor. Possuindo um finalidade própria não pode ser meio, mas axiologicamente fim em si mesmo e ontologicamente, fim a Deus. Nas criaturas não humanas a providencia dirige todos os indivíduos pelas leis da espécie, não podendo nenhum se apartar. Nos ser racionais e livres, capazes de conhecer os seus próprios fins e de se orientar-se para eles. A providencia por um lado particulariza e respeita em cada homem a colaboração da sua liberdade, Põe-lhe tudo o mais, em subordinação hierárquica, a serviço da realização dos seus destinos pessoais. E o centro de perspectiva necessário para julgar a hierarquia das coisas e a sua utilidade relativa é verdadeira finalidade do homem. Quem nele não vê mais do que o animal, cujo be3m estar tudo se resume na posse de alguns bens sensíveis que lhe asseguram os prazeres inerentes à conservação e transmissão da vida, verá em muitas exigências humanas um enigma indecifrável e o pessimismo será a conclusão.  A providencia de Deus governas as contingências humanas, não para assegurar a cada homem um máximo de conforto terreno. O que Deus visa é orientar a cada homem para o seu fim segundo sua natureza. Os outros bens da natureza não são mais do que meios que são distribuídos e subtraídos. Assim torna-se inteligível e “justificada”, e até (para algumas coisas) desejável à nossa razão serena e elevada. Contudo, o sofrimento nem sempre consegue isso.  

Há alguns males que não podem contribuir para o desenvolvimento positivo da pessoa humana. No bem universal[3] sem frustrar a finalidade pessoal está a razão de ser, assegurado pela generalidade e constância das leis físicas e biológicas a que deve  o homem sua própria existência e conservação.

 

 

Por fim, a compreensão do mal para Agostinho:

Se Deus é o Sumo Ser também é o Sumo Bem, então, não pode ser a causa do mal. O mal é uma privação de algo que deveria ser bom. A causa do pecado é o uso do livre-arbítrio de uma maneira errada, onde se prefere o inferior em vez do Superior: é o pecado. O platonismo ajuda Agostinho, pois a volta a sua interioridade. O responsável pelo mal é o homem e não Deus. O mal moral é causado pelo mau uso do livre-arbítrio.

_______________OBS.:_______________

Jesus Cristo nos ensina a via da humildade, para Agostinho não basta apenas a via da interioridade, mas também a da humildade. Reconhece Cristo como mediador que concede a graça. Os homens no mundo que não vivem para o mundo, mas para a Cidade de Deus (sede mística). As pessoas nascem predestinada para o Céu; mas por que umas chegam e outra não, não o sabemos. O mal então é compreendido, como um ato de recusar o movimento do sumo bem (recusar a busca de).

 

[1] Quando se diz não-ser, quanto ao mal, diz-se tomando o mal como um ente de razão. Ou seja, não é contradição interna no texto dizer “em algum lugar” que o mal existe e em outro que o mal não existe. Ao afirmar existe e não existe, afirmo ente segundo a verdade das proposições e ente que se divide pelos dez categorias (substância e acidente). Segundo a verdade das proposições por ser-me permitido digo uma privação, o que não se estabelece na realidade. Não existe pois não é ente senão o que se estabelece na realidade.  O importante é distinguir no ente duas acepções e seus significados para aplica-lo ao mal.

[2] A ordem geral do cosmos – bem supremo da criação material – é condicionada pela constância e uniformidade das leis naturais. E as energias físicas, no determinismo de suas atividades, implicam necessariamente destruições e sacrifícios de bens particulares. 

[3] Algo que é-nos difícil de compreender como por exemplo a morte de crianças inocentes, pessoas com deficiência mental.  

O TEXTO ACIMA FOI CEDIDO PELO PROFESSOR Dr. JOEL GRACIOSO· Ele é um pesquisador na área de Filosofia e Teologia Cristã. Autor de livros e artigos nas áreas de Filosofia e Teologia, ministra cursos e palestras em todo o Brasil e no âmbito Internacional.