Na instrução e profissão da tua fé, abraça e conserva sempre só aquela que a Igreja agora te entrega e que é fundamentada em toda a Escritura. Nem todos podem ler a Escritura, uns porque não sabem e outros porque estão demasiadamente ocupados. Por isso, a fim de que ninguém pereça por causa da ignorância, resumimos todo o dogma da fé nos poucos versículos do Símbolo.
Aconselho-te a levar esta fé como viático ao longo de toda a tua vida. Não admitas outra, mesmo que nós, mudando de ideias, viéssemos a ensinar o contrário do que ensinamos agora, ou o anjo inimigo, disfarçado em anjo de luz, tentasse seduzir-te para o erro. Mesmo que nós ou um anjo do céu vos anunciasse um evangelho diferente daquele que agora recebestes, seja anátema.
Conserva em tua memória estas palavras tão simples que ouves agora, e a seu tempo buscarás na Escritura o fundamento de cada um dos artigos. Este símbolo da fé não foi composto segundo o parecer dos homens; as verdades que ele contém foram seleccionadas entre os pontos mais importantes de toda a Escritura e resumem toda a doutrina da fé. E assim como a semente da mostarda, apesar de ser um grão tão pequeno, contém em gérmen muitos ramos, também o símbolo da fé condensa em breves palavras o núcleo de toda a revelação contida tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Portanto, irmãos, conservai cuidadosamente a tradição que agora recebeis e gravai-a profundamente em vossos corações.
Estai atentos e vigilantes, para que o inimigo não vos encontre desprevenidos e indolentes e vos arrebate este tesouro, ou algum herege venha a corromper o que vos foi ensinado. Receber a fé é como pôr no banco o dinheiro que vos entregamos. Deus vos pedirá contas deste depósito. Diz o Apóstolo: Ordeno-vos na presença de Deus, que dá vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho diante de Pôncio Pilatos, que guardeis sem mancha até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo a fé que recebestes.
Foi-te confiado agora o tesouro da vida, mas o Senhor te pedirá contas deste seu depósito no dia da sua aparição, a qual manifestará a seu tempo o venturoso e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele a glória, a honra e o poder pelos séculos dos séculos. Amen
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Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo
(Cat. 5, De fide et symbolo, 12-13: PG 33, 519-523) (Sec. IV)