Diz a Escritura: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. A misericórdia não é certamente a última bem-aventurança. Lemos também: Bem-aventurado o que pensa no pobre e no indigente. E ainda: Bem-aventurado o homem que se compadece e empresta. E noutro lugar: O justo está sempre pronto a compadecer-se e a emprestar. Tornemo-nos dignos destas bênçãos divinas, de sermos chamados misericordiosos e benignos.
Nem sequer a noite interrompa as tuas obras de misericórdia. Não digas: Vai e volta, e amanhã te darei o que pedes. Não ponhas intervalo algum entre o teu bom propósito e o seu cumprimento. Só a prática do bem não admite adiamento.
Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo; e isto com magnanimidade e alegria. Aquele que pratica a misericórdia, diz o Apóstolo, faça-o com alegria; esta prontidão e diligência duplicarão a recompensa da tua dádiva; mas o que se dá com tristeza e constrangimento nem agrada nem é digno.
Devemos alegrar-nos, e não entristecer-nos, quando prestamos algum benefício. Diz a Escritura: Se quebrares as cadeias da injustiça e da opressão, isto é, a avareza e a discriminação, as suspeitas e as palavras de murmuração, que acontecerá? A tua recompensa será grande e admirável: A tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a sarar. E quem há que não deseje a luz e a saúde?
Por isso, se me julgais digno de alguma atenção, servos de Cristo, seus irmãos e co-herdeiros, visitemos a Cristo, alimentemos a Cristo, tratemos as feridas de Cristo, vistamos a Cristo, recebamos a Cristo, honremos a Cristo, não só sentando-O à nossa mesa como Simão, não só ungindo-O com perfumes como Maria, não só dando-Lhe o sepulcro como José de Arimateia, não só provendo o necessário para a sepultura como Nicodemos, não só, finalmente, oferecendo ouro, incenso e mirra como os Magos; mas, uma vez que o Senhor do Universo prefere a misericórdia ao sacrifício, uma vez que a compaixão tem muito maior valor do que a gordura de milhares de cordeiros, ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que, ao sairmos deste mundo, sejamos recebidos nas moradas eternas pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amen.
LEITURA das Homilias de São Gregório de Nazianzo, bispo (Oratio 14, De pauperum amore, 38. 40: PG 35, 907. 910) (Sec. IV)